sexta-feira, 29 de maio de 2009

Desmedido


(Ivana Almeida)


“Não quero mais discutir contigo, isso acaba com qualquer possibilidade de uma noite tranqüila. Mas se o faço tantas repetidas vezes, é por querer ter a certeza de que, por esta hora, eu não sairei da sua mente. Esse meu sentimento devora tudo, até a irresoluta razão que passeia dentro de mim. Nós precisamos nos merecer mais – entenda, tudo sempre será exatamente igual! Sinto falta do nosso tempo e da nossa maneira, de tudo o que pressentia ser e do que já virara fato, eu não vou te esquecer! Agora estou exausta do amor: escrevê-lo está sendo fatigante e senti-lo, então, quase que enlouquecedor, mas é o único que alcança a minha arrazoada vontade de estar perto de ti.”

Essa foi parte da crônica do meu casamento. Ainda hoje estamos juntos, e parece improvável que haja um fim nisso tudo; vai-e-vem e a gente sempre acaba na mesma sina: nós dois.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Amor em exposição


(Ivana Almeida)

Da vida provei o melhor: os amores! Foram horas, dias e anos de amor perdido, desde a sedução ao mais entranhável sentimento – e como fui feliz! Claro, tive alguns desprazeres, um ou outro sofrimento, mas nada comparado aos dias de glória. Mulheres de todas as formas, de tamanhos e de perfumes, sempre satisfeitas com as horas incalculáveis de agrado com o seu amante de passagem; fui conhecedor absoluto do corpo e da profundidade da alma feminina.
Fui. Hoje apenas coleciono nas margens de um caderno as fulanas tantas que passaram por mim. Estou velho e apaixonado - tem estado mais absurdo na vida de um ser vivo (ou ao menos pensante)? Uma Maria qualquer acabou tornando-se centro de mim, sendo a Maria Carlota da minha vida. Foi uma paixão tão inesperada que senti medo: medo do desconhecido, medo de admiti-lo, medo de torná-lo real, medo de tirá-lo de mim, medo do que não conseguia decifrar com minhas próprias experiências. Sabia que não estava pronto para um amor maior do que o concreto que eu sempre tive em mãos, era esse abstrato que me transtornava.
Quando nossos corpos se encontraram pela primeira vez, não era matéria ali: eram dois corações pulsantes, com sístoles e diástoles ritmadas pela musicalidade da valsa romântica. Nas minhas anotações no tal “caderno das recordações”, não consegui deduzi-la apenas em uma linha, mas em várias, e nas entrelinhas acabei por descrever o próprio Amor.
Minha mente não aceitou o fato de o meu coração se desprender e ter suas próprias decisões, e acabou fazendo com que me afastasse dos encantos da Carlota. Teria sido esta uma solução para continuar nos meus encontros noturnos, mas o maior problema foi uma correspondência simples e direta: “Você não ama sozinho, há mais que agonias para nos oferecermos. Sua muita, Maria Carlota”. Aquelas palavras, juntamente com as lembranças, desmoronaram em mim, e sua ausência foi preenchida gradativamente, até ficar extasiado dela própria.
Rendi-me à nossa união, e consequentemente a abdicação de outras aventuras.
Meu caderno de vida terá sempre essa página; esse rabisco de realidade que mais são versos de melodias romanescas. Das resoluções fotográficas, o amor venceu as lentes dos detalhes e se transformou claro e preciso.

domingo, 17 de maio de 2009

Legítima arte


(Ivana Almeida)
O teatro. Figurinos se movimentam conforme a musicalidade do espaço; vozes ensurdecedoras que tentam alcançar até a última audição; maquiagens livrando-se dos lances de borrões pelo palco – tudo equiparado com os díspares de suas condições: o vilão, o pobrezinho, a cobiçada, a amante.
Esse cenário gerador de situações e personagens incorpora as mais diversas diretrizes de pensamentos, tornando idiossincrático o espetáculo com as emoções que variam do enterro ao parto, do beijo ao tiro. Todos os temperos diante uma mesma mesa: a própria mola vital.
Os movimentos leves dos corpos subtraem o ar enigmático da trama, subvertendo à outra atmosfera de onde sairá um fim necessário. Toda a platéia, taciturna, espera o desenrolar dos acontecimentos. Os olhos apenas servem para registrar os mínimos gestos e ZAZ! O tão esperado beijo declamatório acontece! As palmas vibram em um único tom, é delirante a hora da despedida - une belle fin de pièce.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Tempo definido


(Ivana Almeida)

... e amei uma mulher: o momento mais louvável e mais valoroso em mim.
Meu sentimento foi disfarçado pela discrepância do tempo: era ela de fato, mas a ampulheta não se convencia disto e o coração, cheio das distâncias. Não havia de negar que tínhamos outras tantas preocupações, como salvar o mundo ou ao menos salvar a nós mesmos, mas era uma necessidade estar e ser tudo para ela.
Nossa história foi breve, mas tão intensa quanto à de Otello e Desdémona, que morrem um com o outro em uma traiçoeira façanha do destino. Juntos, parecíamos corpos eternos, que não havia nada menos do que o estado constante de felicidade – claro que era amor! “Oh, Judite, minha querida, que falta da sua suavidade e brandura que me confortavam; das horas de falação e risos tortuosos pelo meio dos outros; pelo alvoroço completo dos planos do nosso romance.”
Meus suspiros de resgate nunca a trazem materializada pela brisa que me dá fôlego, senão nos meus sonhos e momentos de alucinação...
Meses antes...
...ela está indo embora, mas não consigo seguir o resto da tarde sem pensar uma, duas, três vezes em fazer minhas malas e ir onde for para ficar ao seu lado. É certo que seu destino e estado são de longe inacessíveis a mim, mas...
O telefone está tocando.
- Alô? É o senhor Lins?
- Pois não? – disse.
- É a Judite... ela...
- Fala! O que tem a Judite?
- Ela piorou, mas encontra-se acordada.
- Estou indo agora! Por favor, eu... eu não demorarei. Obrigada!
Ai, minha Judite!
Deixei meus pensamentos naquele travesseiro em que estava deitado e fui com pressa ao Hospital Luiz da Prata, não muito longe da minha casa. Guardei a caixinha no paletó e tomei um táxi até o outro quarteirão.
A porta do seu quarto estava aberta a minha espera e quando entrei, todos nos deixaram a sós. Olhei-a um pouquinho com os olhos de quem doaria sua vida por amor: seu corpo magrelo da dieta rigorosa que se prestou a ter, seus olhos escuros amortecidos pelo reflexo branco das paredes, suas mãos e braços tão marcados por injeções, exames, picadas e sei mais o quê. Sua boca ressequida pela fraqueza de umedecê-la com a própria saliva, seus cabelos emaranhados da posição horizontal de seu tronco – ai meu amor! – meu corpo gritou.
- Lins, meu amor? – disse em som quase inaudível.
- Estou aqui, querida. Desculpe-me por não vir mais cedo. – disse, posicionando-me para mais perto da cama.
- Fica comigo.
- Estou aqui, pode ficar tranquila.
- Desculpe-me.
- Pelo quê?
- Não poderei cumprir com nossos planos. Estou morrendo.
- Não, filha, não diga essa barbaridade! Ficará bem, vai ver só. – meu coração estava partido.
- Eu sempre quis ser sua até o fim dos meus dias... e... – um súbito cansaço a fez pausar.
- Não se esforce tanto...
- Deixe-me terminar. Lins, você é o homem certo da minha vida, o amor... sólido dentro de mim. Fui a mais feliz e mais amada... de todas as mulheres que conheço, e talvez isso tenha sido muito para esse... frágil coração, que hoje não quer mais bater sozinho e precisa desses tantos aparelhos. O meu faz-de-conta foi o mais real contigo, e meu onírico, o mais acordada possível. – as pausas de exaustão eram cada vez mais constantes.
- Judite – já não impedindo as lágrimas – eu a amo, e isso é mais forte que a vida e que o pulso do teu coração. Estaremos juntos para sempre, e sempre, e sempre.
- Eu o amo!
- Queres casar comigo?
- Como...?
- Judite, você me aceita como marido? – ajoelhou-se formalmente.
- Lins, eu... – tossiu - não viverei muito.
- Case-se comigo agora, meu amor!
- Agora? Como...?
- Sim! Somos nossas próprias testemunhas. Aceitas?
- Claro que sim, claro! – Mesmo com o desconforto dos tubos, suas lágrimas ainda achavam caminhos para molhar a cama.
Tirei o anel do bolso do paletó, mais feliz que em qualquer outro momento, e pus em seu dedo e ela, o mesmo em mim, mostrando-se cada vez mais fragilizada - era perceptível seu esforço.
- Juro-te amor eterno e coração fiel. – disse beijando-lhe os lábios.
Passado alguns momentos em silêncio, vi que os músculos esgotados da mão que segurava a minha ia descansando aos poucos e enfim, acabamos adormecidos ali. Acordei somente com a entrada do médico para a visita de rotina no dia seguinte.
- Sinto muito, filho.
Essas foram as únicas palavras de consolo: Judite havia morrido naquela tarde.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Domínio de um sentido

(Ivana Almeida)
Alguém passa por mim e deixa no ar um leve e malicioso sorriso e, aproximando-se, segura minha mão. Caminhamos juntos por longo tempo. Minha razão de ser não mais existia, tornei-me incógnita aos meus olhos, com pensamentos sórdidos e superfluidades nas demais áreas.
Marchamos à batalha da vida: sem sucesso. Suas mãos encobriram meus olhos e eu confiei - não sabia que a muito estava cega. Experimentamos os prazeres mais lascivos e estava ciente de que nada nos satisfazia completamente, mas mesmo assim ele bem parecia perito pelos caminhos que me levava, enquanto eu, ainda engatinhando.
O inverno chegou e com ele a solidão que abatia minha alma. Por que tudo estava tão distante das minhas mãos? Por que achava confuso o ritmo da vida? Teria alguém para me arrancar destas interrogações?
O vento sopra mais forte agora. Vejo as folhas caídas das árvores voarem de acordo com o compasso da brisa gélida. Sinto que estou fazendo tudo errado; ilícito.
Saiu então pelas ruas a vagar. A escuridão tomava conta – esta situação me apavorava – e pareço estar só, quando olho para trás... “Não! Era o “alguém” que já vinha perto.” Ultimamente nossa amizade estava um fiasco: sinto-me perseguida. Tento então dar passos longos e acelerados, mas quando este me alcança, fez-me cair numa poça de lama. Levantando, arrisco uma nova fuga - estava deserta e temerosa.
Por incidência do destino encontro um homem de branco mais à frente... De onde eu o conheço, meu Deus? Nesse instante, recordações invadem meus pensamentos. Claro! ele foi meu amigo há um tempo atrás! mas, como pude eu me esquecer dele?
Sinto meu cheiro fétido e olho meu estado: farrapos! Uma sensação embaraçosa e de desconforto.
Quase fugiu da cabeça que àquele ainda estava atrás de mim, mas ao notar minha aflição, este de cor clara, conduziu-me a um lugar mais sossegado. Com sua imensa generosidade, deu-me novas roupas com as quais pude me sentir menos inferior e mais à vontade naquela situação.
- Ficaram ótimas, olhe! – disse, achando estranho o fato de terem me caído tão bem.
- Eu mesmo as escolhi, sabia que você iria precisar.
Nesse momento foi como se quisesse petrificar o tempo para estar ali, mesmo que em silêncio, mas atiçado meu desejo permanente de felicidade. Sinestesias e metáforas invadiram meus pensamentos dos bons amigos.

sábado, 9 de maio de 2009

A você


(Ivana Almeida)

Munique Alemanha, 9 de Maio de 1940


Mãe querida,


Sei que os meses foram de angustia pela minha falta nas correspondências, mas aqui está um pouco difícil de arranjar uma folha de papel em branco sem as salpicadas marcas de sangue fresco. O hospital onde sou voluntária, o São Martino, é aterrador: todos os leitos ocupados por mutilados e moribundos – uma visão medonha a qual nunca me acostumarei. O pior é o cheiro das feridas que apodrecem sem cuidados e o som mortífero de gemidos e pedidos de socorro. Isso realmente me tira o sono.

Parece que essa guerra desgraçada vai matar todo mundo aqui! Há cada caso, mamãe, que meu coração sangra de tristeza. Na semana passada, uma indigente, achada nos escombros de um prédio abandonado, foi hospitalizada com urgência e não fora difícil perceber que havia sido brutalmente abusada. Na sala cirúrgica retiramos resquícios de madeira de suas partes e tratamos dos inúmeros machucados por todo seu corpo. Quando estávamos a sós, ela me revelou sua historia: sua mãe morrera muito cedo ficando apenas com seu pai e seu irmão de cinco anos de idade, quando aquele fora convocado e morto em guerra. No dia em que o seu incidente ocorreu, ela havia ido pedir comida em alguma lanchonete pelo bairro, e passando por um beco escuro, deu de encontro com três soldados alemães que a tiveram à força deixando-a inconsciente. Foi achada horas depois por um dos nossos enfermeiros que, coincidentemente, ia atender um chamado por aquelas redondezas.

É assim trabalhar em uma guerra, mamãe, é assim sofrer por não conseguir mudar esse rumo, é assim encarar a morte diariamente e é assim descobrir o ser humano. Como conseguir dormir enquanto várias dessas garotas estão perdendo sua infância, sua alegria, sua vontade de viver e de ter esperança? Como pensar em dinheiro e poder enquanto homens e mulheres se desgraçam em um choro sem fim por seus mortos? Quando se trata de um corpo “sem importância”, simplesmente é jogado no meio do lixo hospitalar, sem ao menos um enterro decente – que indignação, meu Deus!

Ah, Dona Célia! com tantas assombrações me perseguindo aqui, eu só queria poder passar esse dia das mães ao seu lado! Estou tão carente de colo de mãe e dos seus abraços que me protegem desse mundo cruel e que me tira qualquer medo... mas sei que preciso estar nesse lugar, preciso ser mãe de milhares de pessoas! Obrigada por seu amor, e por ser você a minha mãe!


Ps.: junto à carta, estou mandando uma lembrança, coisa simples, mas sincera. Não demore a me responder.


Amo mais que tudo em mim.


Com uma saudade sem medida, Lia Martins.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

As regras de Martez

(Ivana Almeida)

Enferrujado. Assim estava o meu coração à vista do romance no qual me dispus experimentar. Era uma bela cortesã, dessas que não destinava anos no comércio de corpos, pois logo aparecia um ou outro aventureiro de amor e pedia-lhe que fosse dedicadamente sua. E quem foi o apalermado que com uma única conversa deixou-se capturar por suas expressáveis qualidades? Eu, ora mais.
Sempre fui freqüentador de cabarés: dos mais luxuosos aos mais derribados, mas sempre presente. Para lhe ser sincero nunca fui de me deixar apaixonar por nenhum corpo que possuía, ao contrário, era um porco, desses que só ansiava uma satisfação e por isso não queria saber nomes, idades, condições, nem assuntos pessoais – era apenas eu e um suculento prazer. Não pretendia mudar o modo como via essa necessidade humana, até aquela mulher me aparecer.
Ela era novata no bordel de Firmina ou pelo menos tinha sido importada de algum lugar, porque nunca havia visto rosto tão destacado dentre a luz vermelha e a música sensual do ambiente. Sua boca era o que tinha de mais belo e atormentador – era incrível como sabia me provocar tantos sentimentos com apenas um gesto naqueles lábios de mistério e maciez.
Veio em minha direção como se de uma seleção minuciosa descartasse todos os outros e com uma certeza inegável parecia saber que seria seu. Não sou um homem de raros gostos, mas a beleza é um fundamento importante e isso era algo que ela possuía nas melhores medidas: Cabelos ruivos que de tão grande cobria a enorme tatuagem que tinha nas costas, olhos cor de metal (um cinza que não consigo descrever), um nariz que sozinho não seria bonito, mas que nela parecia perfeito. Tinha um corpo de delírios, umas pernas grossas e levemente tortas, uma barriga que permitia que houvesse em que pegar – contrária aquela mexicana que sempre dormia: osso puro! – seios pequenos, embora fosse atraído pelos fartos.
Enquanto caminhava até mim, eu examinava-lhe como quem faz com uma mercadoria. Estava com um vestido vermelho-sangue, mas não parecia vulgar. Tinha mais o tipo de atriz americana de filme antigo com o copo de Martine na mão e tudo o mais. Era impossível não se sentir atraído.
- É nova por aqui, atriz?
- Sou. Você que parece não ser, certo?
- Gosto das mulheres daqui.
- E o que achaste de mim?
- Dentre todas, é a que mais me atraiu.
- E por que não estava conversando com ninguém, homem?
- Porque não converso com quem durmo.
- Então não pretende se deitar comigo?
- Talvez. E você, por que não conversas com homem algum?
- Porque te escolhi.
- Por que a mim?
- Porque você precisa ser amado.
- Achas que não o sou?
- Se fosse, meu caro, não gostaria das mulheres daqui.
- E o que te faz pensar que gostaria de você?
- Porque sei que seu corpo e sua alma me querem.
- Claro! Isso não seria comum com qualquer outro?
- Não com tanta necessidade como você.
- Achas que já estou de amores?
- Você não quer, mas precisa me amar.
- É louca, atriz!
- Pense e eu te esperarei no Bar de Nubleis amanhã ao horário que o crepúsculo aparecer.
Encostou-me a boca em lábios e saiu, desviando-se dos homens que imploravam sua atenção.
Passado alguns minutos de resistência vi que não estava afim de sexo naquela noite e preferi voltar para casa.
O outro dia pareceu um sufoco das poucas lembranças que tinha da mulher do bordel. Minha memória tentava me atraiçoar com borrões de esquecimento, mas minha vontade de reviver aquele diálogo fez com que tudo ficasse nítido e gravado. Minha mente assimilava conversas a rostos e nomes. Como ela se chama? Não! Não posso querer saber o nome de uma puta, nunca quis saber de ninguém, por que o dela? Meus pensamentos estavam atrelados ao pôr do sol quando a veria novamente, meu corpo a queria, minha mente a clamava, meus órgãos pareciam que iam parar se não a tivesse.
Enquanto o sol estava caindo e o céu avermelhando-se, os lábios da atriz, com um sorriso estridente, convidaram-me para sentar.
- Toma algo? – perguntou o garçom.
- Um café, por favor.
- E você, senhorita?
– Um chá gelado, obrigada.
Novamente estava impecável. Usava um vestido básico para tarde florido e alegre. Seu cabelo preso a um rabo-de-cavalo, sandálias leves e mesmo batom vermelho.
- Você está linda.
- Foi pra ti.
- Falando assim parece que já gostas de mim.
- Decidi te amar, apenas isso.
- E por que quereria isso?
- Você não me ama?
- Han... Amar?
- Sim, amar!
- Não posso te amar tão rápido!
- Então não pensaste em mim nessas ultimas horas?
- Claro que pensei. Aliás, mais do que podia ser permitido.
- E não queres me amar?
- Você não é puta?
- Sou, ou era. Posso ser sua apenas.
- Não lembro a ultima vez que amei alguém. Acho que não sei se consigo.
- Você não precisa ter um roteiro a seguir, só precisa deixar ser amado e não impedir nenhum sentimento de aflorar dentro de si.
- Não tenho muito dinheiro se é isso que você quer.
- Recebo muitas propostas de homens ricos e até milionários. Fosse isto estaria com algum deles.
- Desculpe.
- Tudo bem.
- É que não entendo o que viste em mim.
- Não precisa entender. Nem eu ao certo entendo. As mulheres conseguem sentir quando é o homem de suas vidas.
- E eu sou o da sua?
- É. E quero que seja.
- Do que você precisa?
- Podemos morar juntos no meu apartamento, ir à praia de manhã e correr descalços, escutar músicas, comer um monte de besteiras e rir de toda nossa infância. Preciso de você por inteiro.
- Queres casar?
- Já fomos casados na eternidade.
- E se não der certo? Sou muito inconstante.
- Nos separamos e tudo voltará a ser como antes.
- Queres isso mesmo?- Mais que tudo, homem.
Deixamos o bar e fomos diretamente para seu apartamento, logo ali perto. Tivemos uma noite louca de amor. Nossos corpos eram mais familiares do que estranhos, pareciam ter sido escolhidos num tempo passado para serem perfeitamente acomodados um ao outro. No ápice dos meus embaralhados sentimentos não agüentei a abafada sensação de encontrar um sentindo para tudo: eu te amo, atriz.
- Beatriz.
- Como? - pensei ter sido só um sussurro de prazer.
- Meu nome. Beatriz.
- Prazer.