segunda-feira, 8 de junho de 2009

Infinitivo


(Ivana Almeida)
Não era bem a melhor primavera. De um lado, meus olhos testemunhavam à nudez da natureza, a manifestação peculiar do tango dos pássaros e a orquestra dos grilos; de outro, uma solidão, filha da mãe! Não deveria ter permissão de ser único nessas situações. Sou a imagem desbotada que passeia pela cores naturais. Meus pensamentos alcançam dimensões absurdas: o existir da natureza e o meu Ser – mas parece que eu apenas consigo alcançar a realidade nessa loucura de ser alguém. Preciso de bem mais que o concreto; quero flutuar em todos os planos. Eu sinto que existo, mas estou repartido em frações de horas, de gostos, de amores, de pesadelos e de constantes rumores sobre mim. Por dentro estou rasurado, marcado pelas conseqüências das minhas inconstâncias, e minhas paixões, escassas pela falta de uso. Como usaria de sentimentos para conseguir ser em outra pessoa, se toda vez que penso, a solidão me nega essa possibilidade? Preciso saber quem sou para sobreviver em alguém.